quinta-feira, 11 de junho de 2009

DE CONSPIRAÇÃO PELA DEMOCRACIA E LIBERDADE MINAS ENTENDE


Segunda-feira: 16 de março de 2009 – Os governadores Aécio Neves e José Serra passam o fim da tarde e a noite em Recife. Aproveitaram convite do contador de histórias, Fernando Lyra, ex-ministro da Justiça, indicado por Tancredo Neves e confirmado pelo presidente José Sarney para assistir o lançamento do seu livro de memórias – “Daquilo que eu sei – Tancredo e a Transição Democrática.”.
O lançamento foi uma grande festa política, um reencontro de amigos de diversas correntes políticas no Recife Antigo, no Paço Alfândega restaurado. Em campo neutro, Aécio e Serra transitavam civilizadamente nas diversas correntes. Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, como magistrado, assistia tranqüilo, muito à vontade, a toda a movimentação. Feliz, pela criação de um fato político interessante para o PSDB e, para a opinião pública nacional, rico em significado e inquietudes, tendo como pano de fundo, 2010 e cheio de lições a se tirar.
Lyra, Guerra, o governador Eduardo Campos do PSB pernambucano, Tasso Jereissati, Roberto Freire, Albano Franco e outros políticos cantaram, em prosa e verso, a rica biografia de ambos presidenciáveis. Como declarou Aécio Neves, em BH, antes da viagem, tal encontro, na cidade das pontes sobre o Capibaribe e o Beberibe, “é uma sinalização da unidade do PSDB”. Sem esconder, a meu ver, sou testemunha ocular, as diferenças entre ambos nessa tentativa de ser o candidato tucano ao Planalto.
Os pré-candidatos vêem o Brasil de lugares diferentes, até porque, é impossível deixar de ser mineiro ou paulista, a essa altura dos acontecimentos – na trama da política e da vida.
Serra vê o país a partir da hegemonia da Avenida Paulista, a partir de seus gabinetes empresariais e financeiros, onde políticos de diferentes partidos se escondem, buscando luzes, apoio e sustentação. Natural que assim seja! Poder político e poder econômico se enamoram!

Isso faz parte do realismo, do pragmatismo na caminhada política. Mas a hegemonia da Avenida Paulista está longe de ser a “gramsciana”. Ela cheira mais a “exclusivismo” do que hegemonia – incapaz de vivenciar uma autêntica hegemonia – aquela que é generosa: geradora de parceria entre fortes e fracos econômica e politicamente, no cenário nacional de nossa sociedade.
Esses gabinetes paulistanos desconhecem Antonio Gramsci e sua sábia concepção de “hegemonia”. Nenhuma surpresa nisso! Embora FHC a conhece muito bem. E Serra também.
A postura excessivamente hegemonista da Avenida Paulista é um dado que pesa como uma espada de Dâmocles sobre a Nação brasileira. Não me refiro a São Paulo respeitável unidade de nossa federação. E seu povo também brasileiro. Meu olhar é global. Falo da Avenida Paulista, do poder de seus gabinetes do mundo empresarial, financeiro, expressão fundamental de formação econômica, social e cultural do Brasil e de sua população tão diferenciada do ponto de vista de classes. Penso nas diferenças regionais e sociais de nossa pátria.
Numa angulação diferenciada, Aécio Neves vê o Brasil a partir de Minas, um resumo de brasilidade – do mesmo modo como tantos mineiros, em nossa história, olharam a Nação brasileira.
Minas não respira hegemonia dominadora. Somos plural. Somos sinônimos de liberdade. Buscamos as liberdades democráticas sempre. Hoje como no passado pagamos um preço caro na constituição histórica da soberania, da liberdade, da independência.
Tiradentes e outros mineiros conspiraram nos becos de Vila Rica e nas estradas até o Rio e foram sacrificados na luta libertária, para que, décadas mais tarde, o paulista José Bonifácio pudesse ser o Patriarca da Independência.
Não é apenas o compêndio de nossas escolas que registra o valor de ambos. Tanto que na Praça dos Libertadores – latinos em La Habana, Tiradentes e Bonifácio estão perfilados no Jardim dedicado ao Brasil.
Dr. Tancredo sempre repetiu com propriedade de que o primeiro compromisso de Minas é com a liberdade. Aécio aprendeu e apreendeu estes valores, desde casa e na escola da vida, para mais tarde, homem público, poder avançar.
A vocação libertária de Minas levou Aécio Neves a olhar o Brasil a partir de Teófilo Otoni no Mucuri. Do Jequitinhonha, do Jaíba, do Velho Chico, do Gurutuba e outros vales. O que lhe permite entender o Piauí e outras regiões marcadas por uma exploração mais do que secular. Como as Minas são muitas, a Região Metropolitana, o Triângulo, a Zona da Mata, o Vale do Aço, o Sul de Minas, permitem ao governador Aécio entender São Paulo, o Sul, nossos grandes centros urbanos mais desenvolvidos, e industrializados.
Aécio Neves, reconhecido como gestor competente se coloca como pré-candidato ao Planalto, após seis anos de uma prática política e administrativa moderna, contemporânea. Inclusive de harmonia com Lula Presidente e com Pimentel Prefeito – ambos do PT na defesa dos interesses de Minas. E agora com Márcio Lacerda do PSB.
Em Recife Serra atacou pesado o governo Lula. Já Aécio, mesmo tendo críticas, preferiu enfatizar 2011, como início de uma fase “pós – Lula”. Volto a Dr. Tancredo: Se é mineiro não é radical! Se é radical não é mineiro!
Apesar das dificuldades enfrentadas e mesmo alguns desacertos, o acordo de BH, na sua essência mais profunda, foi a expressão da busca de um patamar mais alto para a política, acenando para o pluripartidarismo, condenando a “ditadura do partido” e a prioridade de interesses partidários e personalistas, priorizando problemas da população e a construção do bem comum como referências primeiras. Sem o governador Aécio no Palácio da Liberdade, tal acordo não seria possível.
Do encontro do Recife nos vem à lembrança JK, que fez uma ampla aliança de Minas e do Nordeste. O que hoje deve ser ampliado para o Brasil Central, sulistas e nortistas – contra eventuais vocações hegemonistas dominadoras.
Nesse sentido, abre-se diante de nós, um novo horizonte que só Minas sabe e pode avalisar. Testemunhei evidências dos diferentes estilos. Boa vontade política na busca desse novo horizonte de uma resistência histórica, cívica, nacional contra ambições hegemonistas e egoístas de uma Avenida do Capital.
De conspiração, de democracia, e liberdade Minas entende?

Um comentário:

  1. Prezado amigo Tilden;

    Li seu artigo publicado no jornal O Tempo na data de hoje, suas considerações são de grande relevância intelectual, como lhe é peculiar.

    Já foi dito outrora que em minas o que se respira é liberdade, por tudo isso carissimo digo-lhe que os posicionamentos do Ministro Gilmar Mendes causa asfixía à nossa mineiridade.

    Não se faz jornalismo na cozinha nem liberdade de imprensa não se faz sentado ao trono da arrogância.

    Estive a pensar se o dia em que o MEC passasse a distribuir exemplares da Constituição, Do Código Civil, do Código Penal e etc, aos cozinheiros e a sociedade em geral e dispensarmos o diploma de bacharel em direito para exercer a profissão de advogado...

    Talvez teriamos ministros mais equilibrados no STF.

    WELLINGTON SILVEIRA
    welington@transfenix.com.br

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