"Eu vim para semear. Não nascí para colher." Frei Betto não apenas leu Che Guevara, ele vivencia essa convicção do guerrilheiro heróico. Nesse sentido, vem semeando livros, palestras, exemplos pelo Brasil e pelo mundo afora. Estive recentemente em Pedro Leopoldo a convite de meus amigos Xandão e Guida, para ouvir e homenagear meu irmão de caminhada no Movimento Fé e Política, nas CEBs, na Teologia da Libertação, na ALN de Carlos Marighella, na resitência à ditadura, no PT por quase 30 anos e agora, na luta, porque a luta continua sempre.
A igreja matriz de Pedro Leopoldo estava lotada. Eis algumas sementes que o dominicano espalhou por aquela boa terra:
*Quanto menos utopia, mais drogas, quanto mais utopia, menos drogas. Não dá para viver sem sonhos.
*Jesus curava sem antes perguntar ao fulano se ele tinha fé. Foi assim com a samaritana, com a cananéia e com o centurião pagão.
*A escola, a família, o Estado e a religião (as igrejas) são instituições em crise, porque vivemos um tempo de mudança de época: a modernidade está dando lugar à pós-modernidade. Como a idade média deu lugar ao modernismo.
*A modernidade fracassou para 1/3 da humanidade. Apenas 20% se beneficiou, 80% foram excluídos. De seis bilhões de humanos, quatro bilhões vivem abaixo da linha de pobreza.
*Vivemos uma crise de valores, uma crise de ética.
*Hoje, a busca é de uma espiritualidade e não de uma instituição religiosa. Daí a crise das igrejas.
*O paradigma de sociedade gerado na modernidade está desaparecendo para dar lugar a um novo paradigma.
*A prioridade na modernidade é o mercado, tudo virou mercadoria. Se não reagirmos à idolatria do mercado e ao consumismo, o caminho estará aberto à barbárie e a dominação.
De volta a Belo Horizonte, na estrada que liga BH ao aeroporto de Confins, José Arnaldo, meu cunhado ao volante, repetia muitas das idéias semeadas por Frei Betto. Terra boa, o coração de José Arnaldo. Ia me esquecendo de uma última semente de Frei Betto, mas ele me lembrou: o homem se orgulha de ter pousado na lua. Mas não se envergonha de não fazer pousar o alimento no estômago de milhões de crianças.
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