Sua mensagem não se sintetiza, nem termina na cruz! Infelizmente não foram poucas as espiritualidades que tentaram absolutizar a cruz, a dor, o sofrimento, como valor maior e quase exclusivo da vivência do Profeta da Galiléia, ao chegar a Jerusalém para a última páscoa celebrada com seus amigos. O pior é que esta visão equivocada, acabou afetando a caminhada de boa parte da humanidade. Quantas vidas não desabrocharam por causa desta hipervalorização da cruz!
Não existe cruz sem sepulcro vazio!
Não existe calvário sem ressureição!
Não existe morte sem retomada da vida!
Foi assim com Jesus! É assim na história humana!
Pendura-se uma curz no pescoço - é muito comum. Por que não penduramos um túmulo vazio pequenino, esculpido na madeira ou na pedra sabão ou pintado? Por que não vemos em nossas paredes um Santo Sepulcro, como vemos com frequência a Santa Cruz?
Na década de 60, eu celebrava com vários amigos, a paixão, a morte e a ressureição literalmente em Jerusalém. Tudo começava na quinta-feira à tardinha, numa grande sala no segundo andar toda perfumada e iluminada por dezenas de candelabros e cheia de almofadas (Lucas 22,12).
Mimetizando o Carpinteiro de Nazaré, que subiu à Jerusalém pela última vez, partilhávamos o pão e o vinho, reproduzindo o Seder - a céia hebráica dos Ázimos e da Páscoa - lembrança da libertaçào e saída do Egito ( Marcos, 14, 22 a 25)
Lá pela meia noite, "depois de cantar os salmos" (Mateus 26,30) atravessávamos Jerusalém e subíamos o Monte das Oliveiras (Mateus 26). Debaixo das milenares oliveiras, "prostrávamos com o rosto por terra e orávamos" ao Pai, a exemplo do Mestre (Mateus 26,39) e partilhávamos convicções, sentimentos, inspirações, comungando uma mesma visão de mundo, como irmãos e irmãs no trabalho, na vida, na luta pela trasnsformação nossa e das estruturas, na busca de uma espiritualidade nova e velha de dois mil anos.
"O espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mateus 26,41).
Acabávamos por adormecer sob as estrelas, "com os olhos pesados de sono" (Mateus 26,43) que só se abriam, quando uma coruja passava nos asustando.
Alta madrugada, quase amanhecendo, descíamos o Monte, batizado por suas árvores, contemplando a cidade sobre a qual Yeshua chorou ( Lucas, 19,41 a 44) e que suspira até hoje pela Paz. Ieroshalaim, cidade da Paz, tão sonhada e dificilmente alcançada, dilacerada por primos e irmão semitas. Mirávamos do alto, antes de atravessar o Vale do Cedron, a majestosa cúpula da mesquita islâmica, que protege a Moriah, onde Isaac ia ser sacrificado por Abraão, a esplanada do templo judeu de outrora.
Passávamos pelas casas dos sumo-sacerdotes, Anás e Caifás, lendo no local nos evangelhos, a mediocridade perversa desses personagens, ( João 18,13 - 27) e a vacilação covarde de Pilatos, quando chegávamos ao Lithostrotos e à torre na muralha, onde ficava o governador romano e as tropas das legiões, que guardavam (?) Jerusalém ( João 18,28 a 19,22)
A sexta-feira era dedicada a uma longa via sacra pelos passos da via crucis. Mas o que me marcou profundamente era na manhã de sábado de alelúia, bem cedinho, disputar com os companheiros e companheiras de Jesus de Nazaré, quem chegava primeiro ao Santo Sepulcro (João 21 a 18)
Daí o meu fascínio e encantamento pelo Santo Sepulcro, mas vazio, pelo túmulo de Cristo vazio, símbolo da ressureição e do eterno renascimento d'Ele e da humanidade.
Hoje, nossa Jerusalém é Contagem, BH, Minas, o Brasil, a América Latina, a terra dos homens, santuário da vida que não morre nunca.
"Ilusória seria a nossa fé, se Jesus não tivesse ressucitado" (Primeira Corintios, 15,12 a 19), dirá Paulo mais tarde. Nas suas cartas e nos atos dos apóstolos, Paulo de Tarso sabe enfatizar o significado da cruz sem desvinculá- lo da ressureição do Messias dos Pobres e da humanidade, sendo resultado final e defiitivo, a redencão de todo o universo criado. "Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens". (Ler todo o capítulo 15 da primeira carta de Paulo aos Corintios.