Fomos surpreendidos com sua decisão pessoal de não ser mais candidato a deputado federal nessas eleições de 2010. Como pré-candidato ao Senado Federal por Minas Gerais, tenho dialogado com os colegas que disputam vagas para a Câmara Federal e para a Assembléia Legislativa de Minas, de meu atual partido, o PSB, do PT e de outras siglas de todos os matizes ideológicos, sobre o seu afastamento das eleições.
Ouso, em meu nome, apesar de não ter convivido proximamente com você, em meus quase 30 anos de petismo e de lulismo e em nome de inúmeros mineiros, seus admiradores, especialmente do PSB, solicitar que continue a fazer política na luta parlamentar, reconsiderando a sua decisão pessoal que respeitamos e tentamos entender.
Durante a resistência à ditadura, muitos de nós, por mais de duas décadas, fomos obrigados a fazer política fora da institucionalidade. Política para nós era sinônimo de ação transformadora da realidade, de exemplo e convencimento para que o povo brasileiro abraçasse a utopia da revolução. Resistimos como perdemos e aprendemos com erros e acertos.
Você sabe que nos tempos de democracia, o “povo brasileiro”, no sentido que dava a essa expressão, o saudoso Darcy Ribeiro, só consegue perceber a política no processo eleitoral, na sabedoria e na malandragem dos partidos e dos políticos, quando disputam eleições ou quando governam e administram e quando criam e constroem partidos legais.
Conhecemos você pela sua maneira de agir no governo Erundina na capital paulista, nas CPIs do Congresso Nacional, na Câmara de Vereadores de São Paulo, nos embates internos do PT. E é com base nesse conhecimento que pedimos para você reconsiderar sua decisão.
Também nós acreditamos numa reforma política com influência da sociedade brasileira, uma pressão de fora para dentro do Parlamento. Mas as forças sociais do Brasil inteiro precisam de quadros como você, com a sua experiência parlamentar e de vida dentro do aparelho de Estado legislativo, na construção de uma autêntica reforma política.
Muita coisa apareceu na imprensa mineira sobre o seu gesto. Cristóvam Buarque questionou: “Saída honrosa? Honrosa, mas ruim para o Brasil”. O presidente da Academia Mineira de Letras, Murilo Badaró, ex-senador e ex-ministro, viu na sua desistência um “sintoma de enfermidade grave na vida institucional brasileira”. Qual papel de nossos partidos políticos e governos face à essa enfermidade? É bem verdade que com seu gesto você mexeu com a consciência da Nação, à esquerda, à direita e ao centro, pouco importa. Vale porém, muito mais sua permanência na institucionalidade parlamentar. Sabemos que é tão difícil lutar nas montanhas como no quotidiano da vida legal republicana. E gostaria tanto de encontrá-lo no Congresso Nacional! Quando você lá chegou, Lula me mandou para Cuba. Pena que você não foi aproveitado como quadro majoritário! Quadros que atuaram nas CPIs com a sua garra, que não roubaram nem acumularam riqueza ao cuidar da res pública, se tornaram imprescindíveis no Parlamento, especialmente na reforma política. Nós que buscamos um espaço político institucional nessas eleições, somamos com a sua visão e objetivos, eleitos ou não. Experimentamos na pele nesse processo eleitoral, tudo que você percebeu e denuncia e enfrentamos um processo eleitoral que virou um mero arranjo de reservar espaço de poder para quem já o ocupa pela força ou pelo dinheiro. Você tem razão.
Quem dera que o movimento histórico iniciado no “fora-Collor” e contra os anões do orçamento, quando cheguei ao Parlamento em 1990 com Aloísio Mercadante, tenha continuidade. Será que foi só um sonho que necessita ser de todos?
Nossa ousadia é manifestada com todo respeito a seu foro íntimo e pessoal.
Saudações socialistas e democráticas de minha parte e de meus amigos de Minas.
Tilden Santiago